O som do silêncio naquela noite invadia os cômodos da casa. Sentada na minha cama e rodeada de livros comecei a pensar que não fazia muito tempo, a casa vivia cheia de gente. Hoje em dia, só os ruídos das madeiras que estão cheias de cupins, além do barulho dos passarinhos que fazem ninhos no teto. – Ainda bem que os pequenos voadores habitam este lugar, já os cupins, preciso tomar coragem para dar um fim neles. Talvez eu chame uma dessas firmas com seus exterminadores de insetos. Porém tenho medo que ao ser aplicado um veneno para matar os cupins, também acabe por matar os passarinhos.- Ah, eu não desejo que meus companheiros desapareçam, eles cantam para mim .- Mas como eu ia dizendo, essa casa era cheia de gente. Crianças corriam por todos os lados. Eu posso ouvir aquelas vozes infantis ressoando na minha memória. – Onde elas estão? Ora, ora, seguiram o curso da vida. Foram viver! E o tempo voou... e eu me recuso a sair dessa casa, também ela está cheia de sons do passado, que só eu posso ouvir. De vez em quando, aparece alguém me fazendo proposta para que eu venda minha casa. Eu sei que ela vale uns bons trocados, claro, querem comprar essa casa para derrubá-la e construir um prédio bem alto com vários apartamentos. Então eu digo um valor exorbitante, os interessados olham para mim e dizem: Dona, essa casa não vale tanto assim! Então eu digo: Não vale para vocês que não viveram aqui! O valor dessa casa é muito grande, e tem mais: nunca vão conseguir derrubá-la. Ela será doada para uma pessoa que vai ter que conservá-la para sempre. Os compradores interessados respondem: A senhora está maluca, ninguém vai querer conservar este imóvel. Daqui a alguns anos esta casa não existirá mais. Então fico muito brava e digo para as pessoas irem embora. -No fundo, acho que ninguém vai querer conservar coisa alguma, a não ser que este imóvel seja tombado, mas tem tantos imóveis tombados por aí, que estão caindo aos pedaços. Bem, enquanto eu viver ninguém derruba minha casa... a não ser os cupins... talvez.
Lita Duarte